quinta-feira, 15 de setembro de 2011

ILUSTRA-TE OU MORRA!

por Emmanuel Fraga
(extraído do Tibanews 28/07/2003)

É, pois, conveniente, para início desse artigo, lembrar que ilustrar vem do latim illustrare, tornar ilustre, glorificar. Ao mesmo tempo, significa esclarecer, elucidar e instruir. Desse verbo provém o termo illustratione, ilustração. Esse breve recurso à etimologia — que pode parecer pedantismo para alguns — faz-se necessário, na medida em que pretendo demonstrar que o verdadeiro sentido de uma ilustração é capaz de superar com sucesso a identificação sumária e corriqueira com uma gravura ou desenho.
Longe de representar um papel secundário frente a um texto, uma ilustração tem a sublime (e ingrata!) missão de servir-nos de convite ao esclarecimento e à reflexão. Nesse sentido, o verbo illustrare é absolutamente reflexivo, pois aponta para o ato de ilustrar e ,simultaneamente, de ilustrar-se.
Outra referência saborosa dessa atividade é o sentido a ela atribuída pela religião. Em sua significação divina, ilustração é o mesmo que inspiração. A arte do ilustrador consiste, para os religiosos, num estímulo ao pensamento e à própria atividade criadora, cuja fonte encontra-se na inspiração proporcionada pelo Divino.

Na Filosofia, por outro lado, a Ilustração representa um dos mais importantes movimentos e períodos do pensamento ocidental moderno: o Iluminismo. Os filósofos desse período (séc. XVIII) defendiam que a razão humana deveria se libertar de todos os preconceitos e superstições e seguir em direção a um modus vivendi condizente com a modernidade. Para pensadores como Immanuel Kant: “ o Iluminismo é a saída do homem de sua menoridade de que ele próprio é culpado” (A 481). Segundo ele, somos culpados por nos deixar tutelar por professores, jornalistas e comentadores que — intencionalmente ou não — acabam por privar-nos do prazer de interpretar, por nós mesmos, o mundo e os acontecimentos a nossa volta. E, fazer isso, implicaria em abdicar da nossa liberdade: é, portanto, um caso de vida ou morte.
Quando vemos uma boa ilustração, devemos encará-la como um testemunho em defesa da liberdade e da autonomia do pensamento, pois esta ultrapassa e muito a visão particular do artista responsável pela sua criação. Representa, antes, como já disse, um convite à instrução, à iluminação e — por que não? ­— à filosofia.

Dito isso, não será difícil justificar o porquê de minha escolha por essa arte em meu site (www.filonet.pro.br). Nos quatro cantos desse enigmático e provocante veículo digital, é possível encontrar as ilustrações de Tiburcio e de outros artistas nacionais. Além do óbvio aspecto intimista proporcionado, as ilustrações integram-se perfeitamente à fluidez necessária a uma página da Web, tornando-a leve e atrativa. Como todos devem saber, estimular alunos a pensar de modo autônomo em uma sociedade cujo modelo educacional ainda encontra-se alicerçado na repetição a-crítica das idéias de poucos privilegiados não é uma tarefa nada fácil. A melhor saída, creio eu, consiste em cativar os nossos jovens primeiramente pelo seu sentido mais desenvolvido: a visão. Com seus olhos “presos” à tela, instigá-los a refletir transforma-se em um prazeroso desafio. E, nesse sentido, não seria piegas dizer que uma ilustração vale mais do que mil palavras!

PS: Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao Tiburcio por esta oportunidade. Aproveito, também, a ocasião para parabenizá-lo pelo excelente trabalho e dedicação prestados através de sua divertida arte. Valeu!

Emmanuel Fraga é formado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e especialista em Informática Educativa pela Universidade Castelo Branco (UCB-RJ). Ministra aulas de Filosofia no Ensino médio da Rede Pública, além de fazer parte do quadro de professores do Curso de Pós-graduação em Informática na Educação da UCB-RJ. Nas horas vagas, gosta de ler uma boa história em quadrinhos de super-heróis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário