
Publicado originalmente no Tibanews em 13/10/2003
“Não há nada que impeça um homem de escrever, a não ser que ele impeça a si mesmo. Se um homem quer realmente escrever, ele o fará. A rejeição e o ridículo apenas lhe darão mais força.”
Estas palavras são do escritor Charles Bukowski e a meu ver também servem para ilustrar o processo de formação de um desenhista.
O objetivo deste pequeno texto é o de descortinar um mito que ronda a figura do profissional do desenho. Este mito a que me refiro, normalmente é expresso pela surrada frase: ah, ele tem dom pra desenhar. Na verdade, caso eu consiga apenas fazer com que as pessoas reflitam sobre tal afirmação já me daria por feliz.
Os indivíduos são formados através de suas relações com outras pessoas, enfim, com o seu meio social, suas ações são norteadas de uma forma compósita, através de tradições e comportamentos que os perseguem por gerações e gerações. Portanto, caso aceitemos que o sujeito em cima de sua prancheta não é um ser que vive isolado do mundo (como na canção de Alcides Lopes e Candeia), devemos reconhecer que ele não possui a sua forma de se expressar através da caneta e do papel desde que nasceu, mas sim foi condicionado através de outros que o precederam.
Faço questão de dizer tudo isso para defender um ponto de vista antigo, o de que todos podem ser desenhistas. Se formos perguntar a alguns artistas do traço como eles deram início a seus “talentos”, a grande maioria irá responder que foi copiando outros artistas. Assim, dependendo apenas de seu afinco e do estudo dos mestres, garanto que qualquer pessoa pode ser desenhista e desde já faço uma convocatória geral: humanos do mundo inteiro, rabisquem.
Nico é cartunista e ilustrador e edita o site:http://www.mundoemrabisco.com
publicado originalmente em setembro de 2007
Trabalhar com ilustração para revistas e livros às vezes pode ser complicado no contexto familiar. Nem sempre as pessoas entendem o que você faz de fato para trabalhar e ganhar a vida.
Estava eu na mesa da cozinha enquanto meu afilhado de 4 anos tomava o seu lanche.
De repente ele me pergunta:
-Tio Marcelo…
- O que é?
- O que o senhor vai ser quando crescer?
- O que eu vou ser???
- É. O que o senhor vai ser quando crescer?
- Renato – disse eu no alto dos meus 24 anos – eu já cresci.
- E o senhor – respondeu ele - vai ficar desenhando a vida inteira?
Autografando
Foi nos anos 90 quando divulgava o Gino & Polaco…
A pedido de minha Editora viajei até uma cidade do interior do Rio para autografar o meu livro que havia sido adotado por uma escola da cidade. Lá chegando, pasmem, encontrei um auditório com 300 crianças para me conhecer e como de praxe respondi suas perguntas e desenhei alguns dos personagens no quadro negro muito animado pelo numero de exemplares que eu deveria ter vendido ali naquela cidade.
Já no final da palestra pedi que os alunos que estivessem com seus livros viessem até a minha mesa para que eu pudesse iniciar a sessão de autógrafos. Foi aí que para o meu espanto apareceu apenas um garotinho com um livro na mão. Perguntei à professora ao lado porque num auditório tão cheio somente uma criança havia trazido o livro para autografar.
- Bem – disse ela – é que esse ano nós adotamos os livros de acordo com as iniciais dos alunos e o seu livro foi sorteado com a letra “o”.
O garotinho se chamava Orlando.
Gosta de cachorro quente? Eu também.
Quase todo mundo gosta de cachorro quente.
Eu prefiro o meu com tudo: molho, batata palha, maionese, ketchup, mostarda, mas enfim…
Acontece dessas coisas no chamado Design Gráfico. O não uso da ilustração em muitas peças que circulam por aí faz com que esses impressos pareçam um hot dog sem molho, um ”pão com salsicha” .
É claro, muitos dirão que um pão com salsicha, caracteriza sem sombra de dúvida um cachorro quente, mas não o completo.
Me deparo na minha vivência com clientes que, sentindo falta do “molho” que a ilustração proporciona, me solicitam o serviço á parte. Isso prova que as pessoas querem “molho” nos seus impressos. Quem não quer?
Esse molho é o que captura os leitores e os faz querer mais e mais. Por isso a ilustração é tão importante para os impressos, sejam eles folhetos ou jornais de grande circulação.
Ou você vai ficar aí só com o pão e a salsicha?